Bruno Torfs














INOCÊNCIA ESQUECIDA



Prelúdio:



“Eu conheci aquele homem perdido...

Ele vagou por entre meus sonhos

Fez de minha alma seus travesseiros mofados

Sussurrou aos meus ouvidos seus agouros desafinados

Acorrentou meu espírito com um terço em seus tornozelos

Arrastou-me pelo caminho das cinzas

Adornou meu pescoço com um colar de medo e aflição

Fez-me chupar a língua com sadismo

Buscando a recordação de um beijo que nunca existiu

Arrancou minha pele, e fez um casaco para os dias de frio

Eu conheci aquele homem sem nome...

Como Vênus em forma de menino

Faltando partes, para á mão não estender

Desejos profundos, adormecidos com resignação

Fazendo-me rezar para um Deus morto

Encolhendo-me dentro de minhas torturas particulares

Mergulhando minha liberdade em piscinas de pecados

Queimando as roseiras com amor e ódio

Eu conheci aquele homem desafiador...

O que rouba o espírito, criando quimeras

Para uma luta longa e dolorosa...”



Senta-te no último acento de madeira sobrevivente

E contemple a última ópera que te fiz
Cada nota desesperada, desse grito inesperado

Um canto de dor, e confissões entoará

Como pétalas mortas jogadas ao vento

Testemunhando os mistérios de teus infernos

É o canto das entranhas da loucura
Prematuro aborto de minha agonia

Para decifrar-te, revelando cada pedaço meu

Em prelúdio, com versos pálidos e escuros

Disfarçados para que não entendas

Os segredos da vida escondidos em mim
É a canção que te chamas para fora da igreja onde moras

Onde dormes com teus bonecos de vodu

Entoando palavras em línguas agora perdidas

Escutes a melodia que sopra vitalidade nos corações fracos

Cantes, escutes, vejas, sintas

Pegues estas asas quebradas e aprenda a voar

Laves teus olhos fundos e aprenda percorrer

Meus desconhecidos caminhos sem tropeçar

Dê aos teus pés de barro, pele e ossos

Deixe-me ser tua urgente liberdade

Admitas que meu útero seja tua prisão

Num santuário de arames e flores

Venhas pelos corredores onde a fantasia é livre

Onde as histórias do ancestral continuam vivas

Venhas para onde o passado foi perdido

E o futuro ainda será ganho sem angustias

Tocando a face das estrelas brilhantes em tempos de primavera

Para que todas as vozes sejam ouvidas

Experimentadas em contínuos arrepios voluptuosos

Em noites aromatizadas com perfumes de mil e duas violetas
Este é o canto silencioso numa luz infindável

Canta a chegada da alvorada em nosso leito

Neguei minha capacidade de amar

Agora estou disposta a desistir dessa luta

Tu, meu visitante íntimo...

Com teu cuspe, eu curo minhas feridas.




Sindri Nathanael

Um comentário:

Kátia Lyria Luz disse...

Adoro a diversificação que encontro aqui. Ser eclético com tanta elegância é raro e magnânimo. Temas de todas as origens são mostrados poeticamente, numa harmoniosa convivência.
Hoje amei deparar com Bruno Torfs, com esta arte sagrada natural e que leva ao respeito à natureza. Mexe com minha emoção ler a respeito do incêndio que quase que acabou com este mundo de beleza natural. Sempre nos surpreendendo com inovações de qualidade.
Gostei dos textos do jovem Sindri Nathanael e Enya canta a floresta e todos seus mitos que nela existem.
A você Fadinha, só elogios e profundo respeito.
Kátia Lyria Luz