Marie-Paule Deville Chabrolle



 

 

 

 



VIAJANDO PARA BIZÂNCIO


Aquela não é terra para velhos. Gente
jovem, de braços dados, pássaros nas ramas
gerações de mortais cantando alegremente,
salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas,
peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente
tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.
Ao som da música sensual, o mundo esquece
as obras do intelecto que nunca envelhece.

Um homem velho é apenas uma ninharia,
trapos numa bengala à espera do final,
a menos que a alma aplauda, cante e ainda ria
sobre os farrapos do seu hábito mortal;
nem há escola de canto, ali, que não estude
monumentos de sua própria magnitude.
Por isso eu vim, vencendo as ondas e a distância, em busca da cidade santa de Bizâncio.


Ó sábios, junto a Deus, sob o fogo sagrado,
como se num mosaico de ouro a resplender,
vinde do fogo santo, em giro espiralado,
e vos tornai mestres-cantores do meu ser .
Rompei meu coração, que a febre faz doente
e, acorrentado a um mísero animal morrente,
já não sabe o que é; arrancai-me da idade
para o lavor sem fim da longa eternidade.

Livre da natureza não hei de assumir
conformação de coisa alguma natural,
mas a que o ourives grego soube urdir
de ouro forjado e esmalte de ouro em tramas,
para acordar do ócio o sono imperial;
ou cantarei aos nobres de Bizâncio e às damas,
pousado em ramo de ouro, como um pássa-
ro, o que passou e passará e sempre passa.



William Butler Yeats
Tradução: Augusto de Campos

2 comentários:

Acácia Lyria disse...

Já lhe disse que adoro tudo isto aqui?
É mágico e me permite momentos de encanto, beleza, repouso de alma e verdadeira alegria.
Abraços sonhados e delirantes.

Helena Catanezzi Douro disse...

Desejo-lhe que durante este ano que já chegou você continue a brindar-nos com momentos culturais, de beleza, de sensibilidade, de emoção e de altos vôos através de sua arte. Estou pasma com a beleza da arte de Marie-Paule Deville Chabrolle e com a poética de William Butler Yeats. Os melhores cumprimentos de Helena Catanezzi Douro.