Willi Kissmer







Praça da República dos Meus Sonhos


A estátua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem
   de morfina
a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo e crianças brincando
   na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
   onde tudo se faz febre e pombas crucificadas
   onde beatificados vêm agitar as massas
   onde García Lorca espera seu dentista
   onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces
os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão
lábios coagulam sem estardalhaço
os mictórios tomam um lugar na luz
e os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos
Delirium Tremens diante do Paraíso bundas glabras sexos de papel
   anjos deitados nos canteiros cobertos de cal água fumegante nas
   privadas cérebros sulcados de acenos
os veterinários passam lentos lento Dom Casmurro
há jovens pederastas embebidos em lilás
e putas com a noite passeando em torno de suas unhas
há uma gota de chuva na cabeleira abandonada
enquanto o sangue faz naufragar as corolas
Oh minhas visões lembranças de Rimbaud praça da República dos meus
   Sonhos última sabedoria debruçada numa porta santa.


Roberto Piva


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