Willi Kissmer








III


O corvo de pelúcia esfaqueado pelas costas
traz os olhos esbugalhados mirando a parede alada.
As estantes, as páginas comidas por traças,
adormecem na noite de meus surtos compulsivos.

Olhos imensos de um desenho de carvão negro
mãos em garras batendo teclas ideais.
O cheiro de perfume velho e asfixiante.
A teia de aranha presa entre os ossos mortos.

Lá fora, homens dirigem seus carros vagarosamente
seguindo as pernas nuas das mulheres prostitutas.
Enquanto corpos se misturam na madrugada convulsiva
de salões apertados, iluminados por rosas ensangüentadas.

Meus passos, meus ruídos, aquele rosto assimétrico.
Triunfa a idéia do parto cesariano sem anestesia.
A dançarina com suas vestes invisíveis
caminha no jardim de lâminas e gafanhotos.


Escreverei dez mil poemas ao poeta necropolitano
sem esperanças de ter meus sonhos confundidos
com o delírio e o êxtase do pai xamânico.
Sou urbano, sou quase cético. Morfina e sonhos.


Roberto Piva
QUATRO POEMAS PIVIANOS

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