Bruno Torfs






ESFINGE NEGRA



“Assim como falham as palavras na tentativa de exprimir qualquer pensamento. Também há falha do pensamento quando se quer pronunciar aquilo que deve ser dito em apenas uma palavra; para que a idéia não se perca nos labirintos das frases. Que fazer? Deixar o que vem antes das palavras, em segurança. Guardar a idéia puríssima no silêncio. Palavras não são de se brincar.”


Arriscando, tenta-se:


Ela acha que consegue conhecer o que as pessoas sentem. Vai vê consegue mesmo. Mais o que importa, é que ela própria se perde em seus sentimentos. Isso causa uma desorganização profunda em sua vida íntima. Passando assim, a descobrir formas de distraí-se de sua dor latente, convivendo nesse caos de forma incrível. Saltando de um medo para outro, esquivando-se das tentativas de solução. Ela conhece a saída. Tem a chave da porta, mais não à coragem para levá-la a fechadura. É um perigo muito grande compartilhar do medo de uma outra pessoa. Melhor compartilhar fome. Ela compartilha medo e verdade; suas verdades, mais não todas. Ela também é um mistério. E carrega o peso de ser um mistério, levando-a a correr o risco que é aventurar-se na viagem interna, em busca das respostas. Essa busca íntima, também é um perigo. Ela corre o risco, e paga o preço da audácia.

Intensa, dança para alegrar o espírito, no ritual seco de seus movimentos. Dança para sentir seu corpo. Gosta de descobrir-lo e submete-o ao limite de suas expressões. Ela se diverte. Seu divertimento está nas coisas mais improváveis: lambe o sal da pele, vê ondas em piscinas, ler versos ao redor de um copo... Desestabiliza os fracos e inclina os fortes. Desafiadora. A ela não falta ar. Faltam pulmões, faltam cigarros. Ela faz tudo por capricho, às vezes funciona ao contrário sob seus ares de marquesa. Entende os presos e absolve os condenados. Ajoelha mais não reza. Odalisca, freira, vadia. Preta... Branca... Colorida. Ela é toda ela. Todinha...


― Menina, entra já pra casa, olha o sereno... Vai pegar um resfriado.


— Já vou mamãe, apenas me deixa terminar de contar as estrelas...




Sindri Nathanael



2 comentários:

Fabio Russo disse...

Caracas, meu, isto é uma loucura. Alucinação total. Que cara é esse meu.
Grande!

Anônimo disse...

Maravilhosa postagem, tanto a arte quanto aos textos. Parabéns!