






INOCÊNCIA ESQUECIDA
Prelúdio:
“Eu conheci aquele homem perdido...
Ele vagou por entre meus sonhos
Fez de minha alma seus travesseiros mofados
Sussurrou aos meus ouvidos seus agouros desafinados
Acorrentou meu espírito com um terço em seus tornozelos
Arrastou-me pelo caminho das cinzas
Adornou meu pescoço com um colar de medo e aflição
Fez-me chupar a língua com sadismo
Buscando a recordação de um beijo que nunca existiu
Arrancou minha pele, e fez um casaco para os dias de frio
Eu conheci aquele homem sem nome...
Como Vênus em forma de menino
Faltando partes, para á mão não estender
Desejos profundos, adormecidos com resignação
Fazendo-me rezar para um Deus morto
Encolhendo-me dentro de minhas torturas particulares
Mergulhando minha liberdade em piscinas de pecados
Queimando as roseiras com amor e ódio
Eu conheci aquele homem desafiador...
O que rouba o espírito, criando quimeras
Para uma luta longa e dolorosa...”
Senta-te no último acento de madeira sobrevivente
E contemple a última ópera que te fiz
Cada nota desesperada, desse grito inesperado
Um canto de dor, e confissões entoará
Como pétalas mortas jogadas ao vento
Testemunhando os mistérios de teus infernos
É o canto das entranhas da loucura
Prematuro aborto de minha agonia
Para decifrar-te, revelando cada pedaço meu
Em prelúdio, com versos pálidos e escuros
Disfarçados para que não entendas
Os segredos da vida escondidos em mim
É a canção que te chamas para fora da igreja onde moras
Onde dormes com teus bonecos de vodu
Entoando palavras em línguas agora perdidas
Escutes a melodia que sopra vitalidade nos corações fracos
Cantes, escutes, vejas, sintas
Pegues estas asas quebradas e aprenda a voar
Laves teus olhos fundos e aprenda percorrer
Meus desconhecidos caminhos sem tropeçar
Dê aos teus pés de barro, pele e ossos
Deixe-me ser tua urgente liberdade
Admitas que meu útero seja tua prisão
Num santuário de arames e flores
Venhas pelos corredores onde a fantasia é livre
Onde as histórias do ancestral continuam vivas
Venhas para onde o passado foi perdido
E o futuro ainda será ganho sem angustias
Tocando a face das estrelas brilhantes em tempos de primavera
Para que todas as vozes sejam ouvidas
Experimentadas em contínuos arrepios voluptuosos
Em noites aromatizadas com perfumes de mil e duas violetas
Este é o canto silencioso numa luz infindável
Canta a chegada da alvorada em nosso leito
Neguei minha capacidade de amar
Agora estou disposta a desistir dessa luta
Tu, meu visitante íntimo...
Com teu cuspe, eu curo minhas feridas.
Um comentário:
Adoro a diversificação que encontro aqui. Ser eclético com tanta elegância é raro e magnânimo. Temas de todas as origens são mostrados poeticamente, numa harmoniosa convivência.
Hoje amei deparar com Bruno Torfs, com esta arte sagrada natural e que leva ao respeito à natureza. Mexe com minha emoção ler a respeito do incêndio que quase que acabou com este mundo de beleza natural. Sempre nos surpreendendo com inovações de qualidade.
Gostei dos textos do jovem Sindri Nathanael e Enya canta a floresta e todos seus mitos que nela existem.
A você Fadinha, só elogios e profundo respeito.
Kátia Lyria Luz
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