Sokolova Nadejda








ELEGIA DA VIDA BREVE

(para Helena Carolina)



Esta dor de saber-me existe e subsiste

Absurda, mas real

Na lúcida calma que em compõe

É a violência de ser que me brutaliza

Com fardos de tédio e oblações de nada.

Artesã, embora vou me criando/ recriando - cósmica essência –

Na concreta inutilidade do que de harmonioso

A forma sugere e se retrai

E o tempo deforma. E erra. E tenta.


Sentir o cetro dos dias, das horas, dos minutos

E do mundo entre passantes ser monologo triste,

Histriônico, farsante, histórico, hipnótico, fascinado, redundante.

O que persigo de imagem e semelhança é vã alegoria

No que poderia ser feita em festa, em alegria.

mas a tensa face em harmonia

em cena se apresenta descomposta. Descomposta

e com ela o corpo em falsa epifania,

pergunta sem resposta em breve palco,

é apostasia, carnavalia,

carne exposta, morta. Retalhada. Há muito morta


Tendo o deslinde da humana desventura

Circo um circulo ilhada

Partilhada e só em parte

E me perco em veredas abertas sobre abismos

E ruflos asas para o azul celeste

Bipartida nestas partidas que me levam.

Sou o que sou não o que poderia nesta tresloucada aventura

Que me empurra taful para o esquecimento

Com o riso preso e o coração opresso.

Tento reconstruir nos consumidos instantes

E pretensa eternidade de minha permanência,

E instancia fiel e secreta de onde a voz se solte,

O gemido gema, o grito grite,

A abissal inquietação inquiete com sua profundez.

E seu animal e arcanjo, com reinações e liberta

Fira no próprio seio a controversa condição.


Ser sabendo-me contudo caminhante para a morte

Enquanto a vida brame e clama e cala a sua esplendidez

E me toma os gestos e a fala

Para que eu modele com o meu barro e o meu sopro.

E tenha em mim e em torno, a cada instante

O epifenomeno da morte presente e já pretérita a memória.

E sendo agora os passos que me avançam

Já cobrem espaço entre meu ser e a terra

- duas arcanidades que se entranham

E me enterram

Perfeita. Pretérita. Eterna.





Myriam Coeli


Um comentário:

Acácia Lyria disse...

Fada

Isto é uma beleza sem fim. Doce encantamento, ternura, sentimentos. Feito sentinela fico e a noite adentro, mergulhada em versos sem fim. A música decai como mel ou fel para dentro e corre em veias sonoras mexendo com cada célula que se assombra e espanta com movimentos sutis das sedas de Sokolova, que veio de terras distantes a tocar meu ser. Em ondas cibernéticas trazidas aladas em braços suaves de fada do mar.
Suavemente belo, perfeição.