Anke Merzbach









Lamento




sinto frio de mim

névoas esmigalhadas

em partículas

fumegantes

sondam-me em

arrepios de lucidez


o quê sou eu?


aquela que esmola o que não sabe

e dôa o que não pode.

(evanescendo)



quanto de mim

hei de suportar

se de uma artéria

sangra vísceras

de desejos

despossuídos?


a paixão me é nunca

sorve-me

fluidos

do que fui sempre.


a poesia é eternidade

sem valor

(de troca)

ou lastro de afectos

depósito de porvires

sob palavras in-sanas.

ao relento



a ilusão de um olhar

isso é amor

delírio

amarfanhados de nós

refeitos em cada acto

taquicardias de gozo


efêmero.


( a vida é a ficção de um real abandonado)



Ana Paula Perissé







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